sexta-feira, setembro 21, 2007

Odiana vs Guadiana

Os romanos foram os primeiros a deixar registo escrito do nome do grande rio do sudoeste peninusular. Chamaram-lhe rio Ana ou Anas, não sendo conhecida com rigor a origem desta denominação.

Após a invasão muçulmana, alguns rios do sul da península tiveram o nome alterado pela anteposição da palavra ‘wad’, termo árabe que significa ‘rio’. Foi o que aconteceu com o Ana que passou a ser chamado ‘wad Ana’.

As novas designações entraram no uso das populações locais, mas a anteposição ‘wad’ evoluiu de forma diferente nas línguas neo-latinas da península. Nos dialetos galaico-lusitanos falados em toda a faixa atlântica, passou a ‘od’, ‘ode’, ou ‘odi’; enquanto que em castelhano passou a ‘guad’ ou ‘guadi’, e em alguns casos o rio deu nome a lugares nas suas margens. É por esta razão que o nome de vários rios e localidades do sul de Portugal começa por ‘od’ (ex. Odivelas, Odeleite, Odiáxere), enquanto que em Espanha começa por 'guad' (ex: Guadalquivir, Guadalete, Guadarrama).

O ‘wad Ana’ não escapou a esta regra. Até pouco depois do final da Idade Média o rio foi oficialmente nomeado e popularmente conhecido em Portugal por Odiana. O termo foi até empregue para designar uma das cinco comarcas medievais, o ‘Entre-Tejo-e-Odiana’, que correspondia ao atual Alentejo.

A forte influência cultural espanhola em Portugal no século 16, anterior à união dinástica, veio alterar a designação que em Lisboa se dava ao rio, e Camões já o refere por "Guadiana" nos "Lusíadas".

Durante o período dos Filipes, a administração portuguesa ao serviço dos reis espanhóis adotou definitivamente a designação Guadiana harmonizando o nome do rio nos dois países. Após a deposição da monarquia estrangeira, o nome português do rio não foi recuperado na terminologia oficial. Com o tempo, também o povo foi trocando o nome ao rio e a mudança consolidou-se.

O uso de ‘Guadiana’ em lugar de ‘Odiana’ é um castelhanismo consolidado por influência cultural e administrativa espanhola em Portugal na passagem do séc.16 para o 17. Infelizmente é também um símbolo da falta de brio dos portugueses, sejam eles governados ou governantes, pela história e património do seu próprio país.


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