quinta-feira, dezembro 06, 2012

"Até que o fim do mundo nos separe"; uma estucha (quase) total


Em “Até que o fim do mundo nos separe" faltam três semanas para que um asteroide atinja a Terra e abrase a atmosfera provocando incêndios que extinguirão a vida no planeta tal como a conhecemos.

A ideia é boa, mas o filme, não. Tem solavancos na narrativa e arrasta-se, uma e outra coisa nos antípodas do que se espera de filme americano que se preze. Uma estucha que faz desejar que o filme e o mundo dele acabem depressa.

As personagens são enxabidas, desde logo o “mocinho”, que parece um personagem habitual de todos os filmes de Manuel de Oliveira, e a “mocinha”, uma personagem inglesa interpretada por uma atriz inglesa que fala com um sotaque inglês daqueles que nenhum inglês cai no ridículo de usar em lado nenhum, muito menos na América.

O filme não reflete aquilo que seria predominante num cenário de fim de mundo, isto é, a bestialidade do comportamento das massas humanas quando a impunidade é certa, tanto mais que, no caso, a impunidade é mais que certa, é definitiva. São conhecidos exemplos antigos e atuais sobre o tema, e nem sequer foi preciso haver notícia de que o mundo ia acabar. Em lugar disso, aparece, por pouco tempo, uma ou outra cena com distúrbios mais ou menos incompatíveis com a realidade.

Mas há outros desligados da realidade: os pilotos de aviões, os pivôs de televisão, as mulheres-a-dias, os empregados de mesa, todos eles se comportam como cordeiros antes da degola, mas com mais prozac que glóbulos vermelhos no sangue para que não falte boa-disposição à inconsciência. Como se não bastasse, ainda há velhinhos pachorrentos que dão boleias, e polícias compenetrados que prendem pessoas porque não têm o registo de propriedade do carro que conduzem.

Algures no meio desta gente, a “mocinha” reencontra um amigo que quer procriar com ela, e a provar as suas boas intenções oferece-lhe lugar num conveniente abrigo tecnologicamente avançado (tipo bunker/incubadora) que só ele e outros escolhidos conhecem. A ideia é passarem todos ali uns dias/semanas/meses até poderem vir à superfície para analisar como sobreviver e repovoar um planeta sem plantas nem animais nem oxigénio nem água provavelmente por centenas de anos (cof, cof, cof).

Portanto, quase tudo é desajustado a um fim-do-mundo. Mas falta o quase, e o quase é o último minuto do filme que coincide com o último minuto de vida na Terra. Ah, sim, aquilo podia ser verdade, por uma vez o filme faz sentido: o mundo podia acabar assim.

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