domingo, dezembro 02, 2012

O 1º de Dezembro visto pelos outros


Sugestão de Leitura neste 1º de Dezembro: “A Independência de Portugal” do historiador espanhol Rafael Valladares. Trata-se de uma visão desencantada da separação das coroas portuguesa e espanhola a que não falta um mal disfarçado ressentimento contra Portugal e os portugueses do tempo.

O livro descreve as insatisfações políticas portuguesas contra Olivares, primeiro-ministro de Filipe IV, os desacordos em Espanha sobre a melhor forma de recuperar o apoio político dos notáveis  portugueses afim de inviabilizar a secessão, e os antagonismos da intensa atividade diplomática portuguesa e espanhola junto da Santa Sé, da França, da Inglaterra e da Holanda no sentido de formar alianças e apoios contra a outra parte.

As intrigas palacianas e diplomáticas são descritas com detalhe e com vários episódios omissos na historiografia portuguesa. No entanto, a participação popular e o fator militar do conflito são menos tratados, o que não significa que seja ignorada a incapacidade das tropas espanholas e dos seus aliados alemães, austríacos e italianos em  reconquistar Portugal.

Ainda que o autor não sistematize a questão, o insucesso militar espanhol adveio da conjugação de diversos fatores:
- as vitórias militares portuguesas nas principais batalhas, em que a vontade e a motivação da tropa portuguesa superou a inferioridade numérica;
- a incapacidade espanhola em manter estacionados em Portugal os contingentes militares que penetraram mais profundamente no país; as linhas de abastecimento eram cortadas, e era impossível encontrar junto dos portugueses quem fornecesse alimentos, muito menos munições;
- a dificuldade crescente em recrutar soldados em Espanha; a guerra não era popular, e o pagamento dos soldados ocorria com meses de atraso;
- a facilidade dos portugueses em recrutar soldados, pelo menos quando comparada com a dificuldade espanhola; também em Portugal os soldados tinham pagamentos em atraso, mas para os portugueses tratava-se de uma guerra de defesa.
- a atividade guerrilheira das forças portuguesas, especialmente as estacionadas nas Beiras e no Alto Alentejo, que levavam a desvastação e o despovoamento à Extremadura, precisamente a região que servia de principal plataforma concentração de homens, munições e alimentos para tentar a invasão do país vizinho;
- o sucesso da guerra luso-holandesa no Brasil (por vezes também designada “guerra brasileira”), aquela em que os colonos portugueses, aliados aos negros e aos índios, e quase sempre sem qualquer apoio de Portugal ante ou pós 1640, mantiveram o Brasil português; por motivos económicos, sem o suporte do Brasil não teria sido possível sustentar a guerra contra o império espanhol.


Ao fim de quase três décadas de guerra e de impasse militar, as finanças portuguesas estavam esgotadas, ainda que um pouco menos que as espanholas. A paz foi firmada pelo Tratado de Lisboa de 1668. A situação era de tal modo grave que a única coisa que a atrasou a assinatura do tratado foi a designação majestática dos signatários.

Para Valladares, como para tantos historiadores espanhóis, a perda Portugal marca o início do declínio do império espanhol. Na verdade, a anexação do Portugal e das suas possessões, sessenta anos antes, também tinha sido um marco na história do império espanhol mas, neste caso, de apogeu.

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