Trata-se de uma descrição desencantada dos factos políticos após o triunfo definitivo do Liberalismo em 1834. A leitura deste livro ajuda a perceber que o Portugal corrupto, palavroso e imbecil não começou há 30 anos como muitos pensam. Os homens e as questiúnculas da década de 1830 podiam ser os de hoje.
A escrita inconfundível de VPV ajuda muito a que o livro seja percorrido do início ao fim em pouco tempo e com muito prazer. A história é relatada não no passado mas no presente. VPV tem essa qualidade como historiador, os acontecimentos históricos não nos aparecem como factos abstratos, inconcebíveis à luz do presente. Bem pelo contrário, ao ler VPV fica evidente que a tecnologia pode ter mudado muito nos últimos 200 anos, mas o ser humano não mudou assim tanto. Há 6 gerações atrás nós, portugueses, não éramos tão diferentes de hoje quanto possamos pensar, sobretudo no que respeita a políticos.
Uma observação final ainda em período de aniversário de 5 de Outubro. Da leitura deste livro podemos perceber que a base social de apoio da corrente mais à esquerda do liberalismo português, o ‘irracionalismo’, era constituída pela pequena burguesia lisboeta, pelos inúmeros pequenos lojistas e manufatureiros de Lisboa e seus empregados. A esta camada social VPV chama a ‘plebe urbana’. Interessante é que serão os netos destes homens que apoiarão e serão o sustentáculo da revolução republicana, 70 anos depois. Estes herdaram dos avós a ocupação profissional, o desprezo revoltado pelos nobilitados e instalados. Infelizmente herdaram também a intolerância e a incapacidade de entender Portugal como algo maior do que a rua ou o bairro da sua tasca ou ferraria.
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