O Dia das Prendas

O Natal mudou. Hoje é cada vez mais a Festa das Prendas, o Dia da Prendas. O Natal cristão está em retrocesso tanto entre os cristãos convictos como entre aqueles que se consideram cristão por herança cultural.

O Dia de Natal cristão sobreviveu ao Dia da Família do Positivismo e ao Dia da Árvore do Comunismo. Mas parece que desta vez sucumbe a uma não-ideologia, sucumbe ao consumismo; o Dia de Natal deu lugar ao Dia das Prendas.

Vive-se de insatisfação material. Quase todos acham que serão mais felizes se em vez de um automóvel TDI tiverem um TDI Special, ou se em vez da PSP2 tiverem a PSP3. Pouco tempo depois o TDI Special ou  PSP3 são objetos pouco mais que suportáveis só de pensar que já existe o TDI Super Special ou que vai ser posta à venda a PSP4.

Ora, ainda bem que mais tarde ou mais cedo chegam os TDI Super Special e as PSP4. Mas no fundo, bem lá no fundo, ter mais um objeto que vem substituir outro, que em breve se quererá substituir por outro, não é mais do que a fugaz satisfação dos tolos.

O Dia das Prendas não é uma festa de celebração da natureza,  nem de fé ou cultura religiosa, nem de crença numa construção político-ideológica. O Dia das Prendas é a festa insana do consumismo, de culto do objeto novo que se dá ou recebe. No consumismo dominante, o objeto, desde que novo, assume o lugar do bem maior.

O Dia das Prendas oferece aquele espetáculo triste que se generalizou há uns anos e que acontece à meia-noite quanto toda a gente se lança sobre os objetos novos, aqueles que, supostamente, trarão a felicidade. E com ‘felicidades’ destas, quem precisa de ‘Meninos Jesus’?

O Dia das Prendas é deprimente.

Ainda assim há quem não tenha aderido ao dia das prendas. Para esses, as prendas são coisas que o pai Pai Natal vai deixar nas chaminés durante a madrugada e são para ver apenas na manhã seguinte. A noite de 24 de Dezembro é toda ela dedicada ao nascimento do Menino Jesus. Esse não desilude, nem passa de moda e não é substituível.